quinta-feira, 28 de maio de 2015

O segredo de como fazer uma longa viagem com tanque pequeno

Minha oma passou por um campo de concentração na Indonésia durante a Segunda Guerra Mundial. Precisou alimentar-se de ratos durante períodos de escassez de comida. Casou-se mais adiante com meu opa missionário e chegou ao Brasil sem saber português e com três filhas pequenas.

Minha tia sofre desde jovem de enxaquecas que muitas vezes a hospitalizam. Seu marido faleceu num acidente de carro. Sua segunda filha ao longo da infância teve que passar por várias cirurgias. Seu segundo marido teve diversos derrames que lhe prejudicaram a fala. 

Minha outra tia casou aos 17 anos com um missionário. Foram fazer missões no Amazonas onde ela criou seus filhos na casa-igreja que tinham lá. Lavava roupa no rio. Cuidava do lar e filhos e do marido para abençoá-lo no seu trabalho.

Minha mãe criou os quatro filhos em três culturas diferentes e em inúmeros lares e adaptações, sempre serena e pacífica e sábia, aguentando nossas crises e rebeldia, e suportando uma fibromialgia intensa e debilitante que a acompanha desde jovem. Até hoje não desiste de nos dar um bom puxão de orelha quando precisamos ou de correr atrás da gente quando não falamos por um tempo.

Esses são uns dos muitos exemplos mais próximos de mulheres fortes que eu tenho em minha vida. Sem contar os inúmeros exemplos de mulheres que não conheço pessoalmente.

A moda de hoje em dia é afirmar a força das mulheres, sua capacidade de fazer aquilo que desejam, de suportar aquilo que muitos homens não suportariam e de ter garra para alcançar os seus sonhos e serem felizes. Mas apesar de tudo isso, olho para mim e vejo que não é nada disso. Tenho limitações bem reais. Físicas, emocionais, espirituais. E essas limitações me assustam muitas vezes. Estou constantemente querendo chutar o pau da barraca e perguntando às minhas heroínas, "Como vocês conseguiram?"

A realidade é que — e isso me dói muito o orgulho dizer publicamente — eu sou muito mole. E vivo reclamando disso!

Não sou a supermulher que gostaria de ser. E quanto mais insisto em ser forte, mais rapidamente se esgota meu pequeníssimo estoque de "força interior". Meu tanque é pequeno. A viagem é longa. Preciso ser reabastecida diariamente.

A ideia de que nossa força verdadeira vem de Deus é muito impopular, mesmo que a Bíblia esteja recheada com ela. Ninguém para pra pensar mesmo sobre as implicações práticas dessa afirmação. Até mesmo o versículo "Tudo posso naquele que me fortalece" tem se tornado mais um mantra para alimentar nosso orgulho e continuar rejeitando aquele que de fato nos fortalece. Ninguém quer abrir mão do poder próprio para fazer aquilo que quer, porque ninguém quer ter que prestar contas do que faz. Quando o dinheiro é meu, faço o que quiser com ele. Mas quando vem livremente de outra pessoa, preciso prestar contas do seu uso. Afinal, você daria seu dinheiro para alguém que provavelmente o usaria para comprar drogas?

Paulo passou por uma experiência bem intensa nesse sentido. Deus fez questão de lembrá-lo diariamente, por meio de um espinho na carne, que ele era de fato fraco e que a graça de Deus o bastava.

Então, ele me disse: A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, mais me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim repouse o poder de Cristo. 
2 Coríntios 12.9

Deus não nos dá forças para fazer o que bem queremos. Ele nos dá forças para fazer o que Ele quer. Ele nos dá forças para resistir a tentação, suportar a provação e em tudo dar graças.

Esse é o segredo de sermos mulheres verdadeiramente fortes: Sermos fracas. Talvez seja hora de sondar o coração e discernir nossos desejos e sonhos. Talvez seja hora de descobrirmos por que estamos querendo tanto nos fazer de fortes. E talvez seja hora de abrir nossas mãos para recebermos do alto nossa fonte diária de força, graça e paz.

Não há nada mais belo do que uma mulher fraca e imperfeita carregando seu fardo serenamente como uma águia nas alturas, confiante no vento que a sustém.

Não sabes, não ouviste
que o eterno Deus, o SENHOR,
o Criador dos fins da terra,
nem se cansa, nem se fatiga?
Não se pode esquadrinhar o seu entendimento.
Faz forte ao cansado
e multiplica as forças
ao que não tem nenhum vigor.
Os jovens se cansam e se fatigam,
e os moços de exaustos caem,
mas os que esperam no SENHOR
renovam as suas forças,
sobem com asas como águias,
correm e não se cansam,
caminham e não se fatigam. 
Isaías 40.28-31


terça-feira, 26 de maio de 2015

Quando não preciso me amar mais

Birra, choro, desobediência, bagunça, sujeira, falta de consideração, problemas recorrentes e situações inconvenientes que nunca mudam apesar dos nossos constantes esforços.

Quem é mãe sabe muito bem o que é ser confrontada, em momentos de pura tensão, pelas concomitantes urgências de cuidar dos outros e, ao mesmo tempo, de cuidar de si mesma.

Sem dúvida, há momentos na vida de todos nós em que somos facilmente dominados por nossas emoções, especialmente debaixo das pressões e tarefas cansativas do dia-a-dia. Nessas horas, perdermos a paciência com as pessoas ao nosso redor. Criticamos e nos sentimos indignados com a falta de consideração e exigimos nossos direitos (afinal, ninguém nota o trabalho de dona-de-casa?). Desabafamos e explodimos, e achamos justo fazê-lo da forma que bem queremos (e depois botamos a culpa no cansaço e no dia difícil). Relembramos o marido de tudo que ele já fez de errado (para tentarmos fazer com que ele pelo menos lave a louça). Gritamos com o bebê birrento que não dá trégua nem sossego (afinal, a gente também sabe gritar). Mandamos aquela pessoa que não pára de encher o saco ir catar coquinho (já tá na hora de aprender, né?).

É fácil acharmos que precisamos nos amar mais e que nossas atitudes, portanto, são justificáveis. É gostoso pensar isso. Quem não adoraria ter divina permissão moral para se amar acima dos outros?

No entanto, o amor não é uma emoção, mas a forma com a qual nós guiamos as emoções. É a forma com a qual agimos com elas ou apesar delas, em meio às tribulações que revelariam nitidamente a natureza orgulhosa e egoísta do nosso coração.

Os momentos que mais me testam esse amor são os momentos em que preciso ser lembrada de que não sou o agente de transformação, e, sim, o instrumento. São momentos em que sou lembrada de que eu precisei e preciso ser amada diariamente por Aquele que me salvou. São momentos em que preciso obedecer apesar dos meus primeiros instintos. São momentos de intensa batalha pessoal, pouquíssimos segundos que definem o tom do resto do dia.

Este é o amor. Não é fácil, mas é libertador, pois nos livra da escravidão do "amor" próprio e nos chama a carregarmos o fardo suave que Cristo nos dá (Mt 11.29-30).



Portanto, pela graça de Deus, seremos assim mais pacientes quando tivermos que passar meia hora descendo as escadas com um bebê que insiste em descer feito gente grande. Seremos assim menos proclamadoras dos nossos direitos de descansar quando o marido exausto pedir ao final do dia que lhe esquente um prato de jantar. Seremos mais compreensivas no momento da disciplina dos filhos, deixando de lado qualquer prejuízo efêmero e considerando suas limitações físicas e os motivos dos seus corações. Escolheremos palavras para abençoar, não para desabafar, na hora de confrontar um amigo com problemas recorrentes. E experimentaremos assim algo que vai muito além do prazer aguado que o "amor" próprio nos promete.
"O amor é paciente, é benigno; o amor não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece, não se conduz inconvenientemente, não procura os seus interesses, não se exaspera, não se ressente do mal; não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta." [1Co 13.4-6]

sexta-feira, 22 de maio de 2015

A meleca que me dá paz

Admito que no começo da introdução de alimentos sólidos, passava um paninho a cada dois segundos no rosto do menino... Não deixava ele enviar os dedos na comida nem se lambuzar muito. A gente já se cansa tanto durante o dia, né? Meleca não anima ninguém... e a gente se preocupa depois em não conseguir limpar direito. Já pensou em deixar o menino dormir com banana encrustada atrás da orelha?!


Há um ano atrás, essa foto teria me dado muita agonia. Na verdade, acho que eu simplesmente não acreditaria que fosse algo que eu permitiria. Mas ei-lo aí: JG, curioso com as mãos e dedos, sem se preocupar com o macarrão que fica debaixo das unhas e dos pedaços de comida que endurecem suas mechas de cabelo.

Hoje, a regra é bagunçar para limpar. Sofrer para aprender. Bagunce mesmo, filho, porque assim, você aprende a arrumar. Suje a mão, porque aí mamãe te ensina a lavá-las. Meleque-se todinho, porque mamãe bota a roupa pra lavar e te põe debaixo do chuveiro. A vida é feita de contrastes. Sujeira, limpeza. Bagunça, organização. Sem um, não se tem o outro. Dizem que o primeiro filho a gente trata feito porcelana. Acho que você, JG, já nasceu caçula, porque mamãe te trata mais como se fosse de borracha. Perdoe a mamãe nos dias em que ela tá bem chatinha e nem um pouco a fim de limpar nada e não te deixa fazer aquela bagunça que você tanto ama.

Ainda tenho nojinho e noia das coisas. Infelizmente, agora não tenho mais energia nem flexibilidade (por causa da barriga de 7 meses de gravidez) para correr atrás e evitar que o sapeca lamba o chão do elevador social (sim, ele já fez isso). Nessas horas, podemos apenas orar para que Deus preserve o filho e então fazer a nossa parte.

Como o pai do Bruce Wayne dizia, "Por que caímos, Bruce? Para aprender a nos levantar."

Como a mãe do JG agora diz, "Por que a gente se suja, JG? Para aprender a se lavar."

A vida não é bonitinha, arrumadinha, perfeita e segura. Por isso, não vou te enganar, filho. Você vai amar se melecar todo e odiar se limpar depois. Você vai cair e se machucar e ter que colocar curativo. Vai ser bem confuso. Pior, vai ser uma loucura! E mamãe quer que você aprenda a enfrentar a vida com alegria e coragem. Mas o maior desejo do meu coração é que tudo isso aponte para o maior contraste de tudo: o podridão do pecado no seu coração e a resplandecente graça de Deus. Minha oração é que você possa vir a apreciar a beleza das misericórdias de Deus na tua vida.

Por isso, filho, bagunce e faça sua meleca maravilhosa. E dê graças a Deus que inventaram os benditos lencinhos umedecidos.

O sabão
lava meu rostinho,
lava meu pezinho,
lava minha mão!
Mas Jesus,
pra me deixar
limpinho,
quer lavar
meu coração!

quinta-feira, 21 de maio de 2015

A palavra do dia é "esperança"


Todos precisamos — de uma forma ou outra — de uma rotina (por mais louca e incompreensível que seja). É algo essencial para nosso dia-a-dia! Tenho aprendido por experiência com a criação de filho que uma boa rotina gera segurança e confiança. Ambos são base para amadurecimento e crescimento.

Sempre curti uma boa rotina. Se eu tivesse espaço, tempo, energia e uma bola de cristal, eu seria muito sistemática. Um dia bom para mim geralmente é um dia no qual a rotina foi seguida e o tempo foi "bem aproveitado". Imprevistos? Improvisos. Hoje em dia eu tento. Nem sempre consigo. Na verdade, geralmente não consigo. Mas há uma rotina prevista na minha cabeça que determina o começo, meio e fim do dia e, no geral, essa rotina super básica é seguida tranquilamente, seja pela firme força de vontade dos pais ou pelo simples desenrolar dos eventos.

No entanto, sempre foco demais na rotina e há momentos em que me encontro totalmente desorientada na imensidão da vida. Nessas horas, preciso me esforçar para lembrar exatamente onde estou (e às vezes até quem eu sou).

E nem sempre me deparo com uma sensação tremendamente agradável. Às vezes, fico me perguntando, "Pra que estou fazendo isso?". Afinal, a rotina deveria ter um motivo além de si mesma. Deveria ter um propósito concreto, alvos de curto, longo e longíssimo prazo. Assim como todo mundo precisa de uma certa rotina, todo mundo também tem suas expectativas. E com elas, as suas esperanças. Uma boa esperança gera motivação e ânimo para engajar na rotina, não é mesmo?

No entanto, na luta para manter uma boa rotina, acabo muitas vezes me esquecendo totalmente das minhas esperanças. Acho que não sou a única que acorda de manhã e às vezes conclui que só quer que o dia termine, seja por enfadonho ou cansaço. É um tiro no pé. A esperança é o combustível da vida. Se estamos esperando sem saber pra quê, as coisas meio que perdem o sentido, não é? Estamos apenas nos enganando com combustível adulterado, inventando motivos para seguirmos a rotina, esperando chegar o fim do dia para descansarmos, o feriado para irmos naquela viagem, o aumento do salário para comprar aquele carro, a chegada do amor verdadeiro para completar nossa vida, a formatura, a aposentadoria, e, muitas vezes, a própria morte. São motivações, mas não são esperança verdadeira.

E agora me caiu a ficha. Minha rotina, por mais que a idealizo, não tem priorizado a renovação da esperança verdadeira e, por isso, minha rotina está fadada a falhar eventualmente... Por mais que minhas expectativas se realizem, nunca terei satisfação ou alegria verdadeira no dia-a-dia se eu não tiver esperança. Meu filho pode crescer, ser saudável e ter muito sucesso na vida. Mas tudo isso passará. Como diz o autor de Eclesiastes, "tudo é vaidade!"

No entanto, Lamentações 3.21 diz "Quero trazer à memória o que me pode dar esperança." E o autor segue explicando numa poesia muito mais profunda do que eu poderia comentar agora.

Esse texto será minha devocional de hoje antes de dormir. Esse e o texto que John Piper escreveu com o qual me identifiquei muito, chamado "Dez Grande Lembretes Diários". Vale muito a pena lê-lo! Recomendo a todos. Acho uma fantástica ideia imprimir e emoldurar esses lembretes e pendurar onde teremos tempo para contemplá-los. Será o nosso projeto para o mês de maio! É uma forma de por em prática o versículo de Lamentações.

Você também encontra-se nessa situação às vezes?

Como você traz à memória o que te dá esperança?